terça-feira, 10 de abril de 2007

Páscoa pagã

Páscoa: s. f. 1. Festa anual dos judeus, comemorativa de sua saída do Egito. 2. Festa anual dos cristãos, comemorativa da ressurreição de Cristo.

Ambos significados só podem contribuir, mas jamais descrever a completude do que se dispôs a viver nessa data sagrada.

Santa, a quinta inicia-se na expectativa, coberta por nuvens e uma leve brisa úmida que suavemente cobria os vitrais, de tal modo, que era possível com o dedo desenhar símbolos, escrever bobagens com a certeza que a mesma brisa seria o apagador daquele desabafo inconsciente.

Todos os discípulos reunidos na mesa para o inicio da partilha, a mesma é feita a partir dos anseios de todos os presentes de se alimentarem da curiosidade alheia, desconhecimento se transforma em cumplicidade no milagre das palavras desprovidas de intenções catequizantes. Todos se levantam para o ritual de institucionalização do sacrilégio aos cânticos exaltados da consagração do prazer.

A ceia é servida com o gosto do orgasmo dos desejos, mãos, pernas, rostos e línguas se entrelaçam, como quando o fim da tarde acontecia viu novamente o embaço dos vidros, agora causado pela transpiração e suor de corpos satisfeitos, desenhava nele seu futuro próximo.

Judas se revela na face do acaso, denunciado a viver ao desespero do não querer, devorado pelo caos urbano do desencontro, julgado pela não afirmação da vontade do que já havia passado. Só lhe restou o martírio da cruz que pesava na consciência.

Malhando a burrada guardada na ignorância dos demais se propôs a assumir o caminho perdido no desgosto outrora tão cordial como dique daquilo que talvez lhe representasse um fiapo da vida, as desculpas se apresentaram em palavras litúrgicas impostas pela crença da esperança, que felizmente se consumaram no além.

Teve então a chance antes perdida no ato falho do real e utopicamente sorriu ao encontro da carne, na aparência feminil que novamente ao seu lado completava o vazio da fome que o sentimento reclamava. Ouvia o choro das nuvens encharcando os telhados enquanto deitado, saciado, acariciava seu troféu pela vida, respirando a quatro pulmões o prazer da ressurreição.

Um comentário:

Anônimo disse...

ceia o seio