segunda-feira, 26 de março de 2007

Sentimentos binários

Suando e tremulo dava cada passo em sentido a despedida, a consciência já lhe havia dito a algum tempo que seria inevitável, as claras os fatores e explicações foram dadas.

Antes do momento crucial observou o entorno, os movimentos, luzes, pessoas, objetos, sons. Um som em particular era comum a todos os presentes naquele ambiente, um ruído de apenas duas notas que se expandia através do sistema de auto falantes, som simples que tinha o objetivo de trazer a atenção para si, pois ele anunciava informações preciosas para aqueles que ali estavam.

O mais engraçado era como esse pequeno ruído era recebido pelas centenas de pessoas, que com ouvidos caninos tinham diferentes impressões e reações, alguns sorriam, outros esperavam, frustração, alegria, tristeza, uma disparidade indescritível de sensações.

Que compositor mágico poderia fazer essa canção de duas notas não tendenciosa, o som não falava de amores, de tristezas, de festas, de funerais, apenas anunciava aquele que a escutava que algo dentro dele deveria responder aquele estimulo, era uma campainha binária para o sentimento reprimido, som que desperta.

Chegava enfim o instante, se aproximou do que deveria fazer, o som não se cala, entregou a ela seu último apelo, um pequeno pacote, um abraço doloroso, um beijo no qual agora só resta o fel da certeza do adeus, um olhar, a lágrima tímida e o som gritando que agora ela deve embarcar em sua nova vida.

Está na hora, as assas da esperança levantam vôo.

Anda novamente no salão agora de volta, observa no chão sua sombra ficando para traz e desaparecendo no clarão da janela. O som não para nunca, novamente anuncia novas chegadas e despedidas.
“Binbon... Atenção passageiros com destino à...”